O samba nasceu na Bahia, no século 19, da mistura de ritmos
africanos. Mas foi no Rio de Janeiro que ele criou raízes e se
desenvolveu, mesmo sendo perseguido. Durante a década de 1920, por
exemplo, quem fosse pego dançando ou cantando samba corria um grande
risco de ir batucar atrás das grades. Isso porque o samba era ligado
à cultura negra, que era malvista na época. Só mais tarde é que
ele passou a ser encarado como um símbolo nacional, principalmente
no início dos anos 40, durante o governo de Getúlio Vargas. Nessa
música brasileiríssima, a harmonia é feita pelos instrumentos de
corda, como o cavaquinho e o violão. Já o ritmo é dado, por
exemplo, pelo surdo ou pelo pandeiro. Com o passar do tempo, outros
instrumentos, como flauta, piano e saxofone, também foram
incorporados, dando origem a novos estilos de samba. À medida que o
samba evoluiu, ele ganhou novos sotaques, novos modos de ser tocado e
cantado.
Um marco dentro da história moderna e urbana do samba ocorreu em
1917, no próprio Rio de Janeiro, com a gravação em disco de "Pelo
Telefone", considerado o primeiro samba a ser gravado no Brasil
(segundo os registros da Biblioteca Nacional). A canção tem a
autoria reivindicada por Ernesto dos Santos, mais conhecido como
Donga, com co-autoria atribuída a Mauro de Almeida, um então
conhecido cronista carnavalesco. Na verdade, "Pelo Telefone"
era uma criação coletiva de músicos
que participavam das festas da casa de tia Ciata, mas acabou
registrada por Donga e Almeida na Biblioteca Nacional.10 "Pelo
Telefone" foi a primeira composição a alcançar sucesso com a
marca de samba e contribuiria para a divulgação e popularização
do gênero. A partir daquele momento, esse samba urbano carioca
começou a ser difundido pelo país, inicialmente associado ao
carnaval e posteriormente adquirindo um lugar próprio no mercado
musical. Surgiram muitos compositores como Heitor dos Prazeres, João
da Baiana, Pixinguinha e Sinhô, mas os sambas destes compositores
eram amaxixados, conhecidos como sambas-maxixe.
Origens
do termo samba
Existem várias versões acerca do nascimento do termo "samba".
Uma delas afirma ser originário do termo "Zambra" ou
"Zamba", oriundo da língua árabe, tendo nascido mais
precisamente quando da invasão dos mouros à Península Ibérica no
século VIII.11 Uma outra diz que é originário de um das muitas
línguas africanas, possivelmente do quimbundo, onde "sam"
significa "dar", e "ba" "receber" ou
"coisa que cai". Ainda há uma versão que diz que a
palavra samba vem de outra palavra africana, semba, que significa
umbigada.
No Brasil, acredita-se que o termo "samba" foi uma
corruptela de "semba" (umbigada), palavra de origem
africana - possivelmente oriunda de Angola12 ou Congo, de onde vieram
a maior parte dos escravos para o Brasil.
Um dos registros mais antigos da palavra samba apareceu na revista
pernambucana O Carapuceiro, datada de fevereiro de 1838, quando Frei
Miguel do Sacramento Lopes Gama escrevia contra o que chamou de
"samba d'almocreve" - ou seja, não se referindo ao futuro
gênero musical, mas sim a um tipo de folguedo (dança dramática)
popular de negros daquela época. De acordo com Hiram da Costa
Araújo, ao longo dos séculos, as festas de danças dos negros
escravos na Bahia eram chamadas de "samba".
Em meados do século XIX, a palavra samba definia diferentes tipos
de música introduzidas pelos escravos africanos, sempre conduzida
por diversos tipos de batuques, mas que assumiam características
próprias em cada Estado brasileiro, não só pela diversidade das
tribos de escravazos, como pela peculiaridade de cada região em que
foram assentados. Algumas destas danças populares conhecidas foram:
bate-baú, samba-corrido, samba-de-roda, samba-de-chave e
samba-de-barravento, na Bahia; coco, no Ceará; tambor-de-crioula (ou
ponga), no
Maranhão; trocada, coco-de-parelha, samba de coco e soco-travado, no
Pernambuco; bambelô, no Rio Grande do Norte; partido-alto, miudinho,
jongo e caxambu, no Rio de Janeiro; samba-lenço, samba-rural,
tiririca, miudinho e jongo em São Paulo.
Carnaval
Ao pensarmos sobre o Carnaval, temos o hábito de considerá-lo como
uma típica festa brasileira. A presença dessa festividade em nossa
cultura é tão grande que muitos chegam a afirmar que o ano começa
depois do Carnaval. No exterior, essa mesma festa se transformou em
um dos grandes referenciais da cultura brasileira. No imaginário de
muitos estrangeiros “carnaval” está entre as três primeiras
palavras quando o assunto é Brasil.
Desfile carnavalesco na década de 30
No entanto, podemos afirmar que o carnaval não é uma festa
brasileira. Remontando pesquisas históricas que chegam até a
Antiguidade Clássica, temos informações que os festejos de
carnaval passaram por muitas transformações e se fez presente em
diferentes culturas do mundo. Até chegarmos ao Carnaval dos padrões
hoje conhecidos, diferentes tipos de festa ocorreram com o mesmo
nome.
O carnaval é originário da Roma Antiga e, incorporado pelas
tradições do cristianismo, passou a marcar um período de
festividades que aconteciam entre o Dia de Reis e a quarta-feira
anterior à Quaresma. Em Roma, a Saturnália seria a festa
equivalente ao carnaval. Nela um “carro naval” percorria as ruas
da cidade enquanto pessoas vestidas com máscaras realizavam jogos e
brincadeiras.
Segundo outra corrente, o termo “carnaval” significa o “adeus à carne” ou “a carne nada vale” e, por isso mesmo,
traz em sua significação a celebração dos prazeres terrenos. Em
outras pesquisas, alguns especialistas tentam relacionar as festas
carnavalescas com os rituais de adoração aos deuses egípcios Ísis
e Osíris.
Mesmo contado com a resistência de algumas alas mais conservadoras,
o Carnaval passou a contar com um período de celebração regular
quando, em 1091, a Igreja oficializou a data da Quaresma. Contando
com esse referencial, o carnaval começou a ser usualmente comemorado
como uma antítese ao comportamento reservado e à reflexão
espiritual que marcam a data católica. Assim, a festa carnavalesca
passou a ser compreendida como um período onde as obrigações e
diferenças do mundo cotidiano fossem anuladas.
Durante a Idade Moderna, os bailes de máscara, as fantasias e os
carros alegóricos foram incorporados à festa. Com o passar do
tempo, as características improvisadas e subversivas do Carnaval
foram perdendo espaço para eventos com maior organização e espaços
reservados à sua prática. Grande parte da inspiração do nosso
carnaval contemporâneo foi trazida com a grande influência que a
cultura francesa teve no Brasil, principalmente, no século XIX.
Atualmente, o prestígio alcançado pelos desfiles de carnaval,
principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, e a disseminação
das chamadas micaretas trouxeram novas transformações ao evento.
Alguns críticos chegam a afirmar que o sentido popular da festa
perdeu lugar. Apesar dessas mudanças, esse quatro dias do calendário
são aguardados com muita expectativa. Seja pela expectativa do
festejo, ou pelo descanso.
Evolução
do Samba
DA RODA AO PAGODE
Por volta dos anos 30, diferentes estilos de samba surgiram no Rio de
Janeiro
SAMBA-DE-RODA
Muito parecido com a roda de capoeira, é a raiz do samba brasileiro
e está registrado na Unesco como patrimônio da humanidade. Surgiu
entre os escravos na Bahia por volta de 1860 e logo desembarcou
também no Rio de Janeiro. O samba-de-roda, como a dança, começa
devagar e se torna cada vez mais forte e cadenciado - sempre
acompanhado por um coro para repetir o refrão. Várias canções do
estilo têm versos sobre o mar e as tradições africanas.
SAMBA DE BREQUE
Um dos primeiros estilos nascidos no Rio, foi criado no final dos
anos 20 em botecos da cidade. No meio do samba rolavam "paradinhas"
onde o cantor falava uma frase ou contava uma história. Um dos
mestres foi Moreira da Silva. O ritmo é mais picadinho - ou
"sincopado", como dizem os músicos -, mas a marca
registrada é mesmo a parada repentina. Daí o nome "samba de
breque". Quase sempre conta uma história engraçada, de um
tiroteio entre malandros à história de um gago que se apaixonou...
PARTIDO-ALTO
Na década de 1930, o partido-alto se popularizou nos morros
cariocas. Entre um refrão e outro, os músicos criavam versos na
hora, quase como repentistas. As antigas festas de partido-alto
chegavam a durar dias! A partir dos anos 70, Martinho da Vila virou
um músico marcante do estilo. A principal característica é a
improvisação. O partido-alto se mantém, principalmente, pelo jogo
de palavras encaixadas no momento certo. O estilo trata de temas do
cotidiano, e sempre com o maior bom humor.
SAMBA-ENREDO
Na década de 1930, quando surgiram os primeiros desfiles de escolas
de samba no Carnaval do Rio, nasceu o samba-enredo. No início, os
músicos improvisavam dois sambas diferentes: um para a ida e outro
para a volta na avenida onde as escolas desfilavam. Com o passar dos
anos, o samba-enredo ganhou uma batida mais acelerada que outros
sambas - o que ajuda as escolas a desfilarem no tempo previsto. A
partir dos anos 80 a coisa mudou, mas, até então, samba-enredo só
abordava a história oficial do Brasil.
SAMBA-CANÇÃO
Outra cria dos botecos cariocas, o samba-canção apareceu na virada
dos anos 30 para os 40. Logo ficou famoso como "samba de fossa",
perfeito para ouvir após um pé na bunda... Cartola e Noel Rosa
fizeram grandes músicas do estilo. A batida mais lenta e cadenciada
do samba-canção lembra bastante o bolero, outro ritmo musical que
fazia sucesso nos anos 40. Em geral, as canções falam de desilusão
amorosa - de amores não correspondidos às piores traições!
BOSSA NOVA
Cansados da fossa do samba-canção, alguns compositores
decidiram fazer músicas sobre temas mais leves no final dos anos 50.
Nascia a bossa nova. Mestres como Tom Jobim e João Gilberto faziam
um samba bem diferente, com grande influência do jazz. Com
construções musicais mais "complexas", a bossa nova tem o
chamado "violão gago", tocado num ritmo diferente do da
voz e dos outros instrumentos. O assunto preferido eram as belezas da
vida, da praia às mulheres, é claro!
PAGODE
O pagode que hoje faz sucesso pintou como estilo de samba na década
de 1980, no Rio, com cantores como Jorge Aragão e Zeca Pagodinho.
Nos anos 90, em São Paulo, ficou mais "comercial" - com
direito até a coreografia dos músicos - e explodiu nas rádios. O
pagode dos anos 80 era muito influenciado pelo partido-alto. Já na
década seguinte passou a ter uma pegada mais lenta e romântica. Nos
anos 80, o principal era a vida na comunidade; nos 90, as letras
românticas.
"AVÔ" DO RECO-RECO
Além de batuques na palma das mãos, os escravos batiam um garfo num
prato, obtendo um som semelhante ao do reco-reco - instrumento que dá
força ao samba.
CUÍCA
Com o som de uma "voz grunhindo", foi uma das novidades das
baterias das escolas. A função da cuíca é mais complementar,
dando um tempero extra ao samba.
PANDEIRO
Desde a origem do samba o pandeiro estava presente, mas no
samba-canção ele ganhou mais importância, marcando o ritmo da
música no lugar do surdo.
COMPLETANDO A BATERIA
Conheça outros instrumentos importantes para um bom batuque
TANTÃ
Mais fino que o surdo, também marca o ritmo. Em geral, é tocado com
a palma das mãos, sem que os dedos encostem na membrana.
TAMBORIM
Tocado com uma vareta de bambu, não marca necessariamente o ritmo do
samba, mas traz um som agudo para o batuque.
CAVAQUINHO
Tem papel semelhante ao do tamborim: deixa o som mais agudo. Mas faz
isso na melodia do samba, e não na batida rítmica.